10 de dez. de 2015

21 anos sem Renato Russo – uma música, uma história e Santa Maria

Em 1986, a banda Legião Urbana fez um show memorável em Santa Maria (RS). O texto a seguir foi escrito por mim e publicado em 2012, no blog da extinta rádio Itapema FM Santa Maria. Ele conta uma história curiosa a respeito da banda e um possível vínculo com Santa Maria. Vamos a ela.




Formação original clássica (da esquerda para direita): Renato Rocha (baixo), Marcelo Bonfá (bateria), Renato Russo (vocais) e Dado Villa-Lobos (guitarra)

Cultuada e idolatrada por muitos, odiada e desprezada por outros tantos. Assim é a banda Legião Urbana. Há quem ame, há quem torce o nariz e diz que nem acha tudo isso.

Mas a contribuição da Legião pra história do rock brasileiro é irrefutável. E se formos pensar nos grandes pilares intelectuais da geração 80 do rock nacional, é até um sacrilégio não mencionarmos o nome de Renato Russo e todo o legado do vocalista e compositor no cenário da música brazuca.

Renato Manfredi Junior é e continua sendo um dos principais letristas de toda uma geração. Junto com outros nomes maiúsculos, como Cazuza e Raul Seixas, ele entrou pra história graças ao lirismo exacerbado e toda a inspiração que buscou na prolífica fonte dos poetas malditos. Um legado acometido pelo turbulento néctar do amor fracassado, afinal, morrer de amor para um cara extremamente romântico como Renato, não passava de uma visão sublime da tragédia.

Mas, você leitor, sabe que há um elo entre a Legião Urbana e a cidade de Santa Maria? Acreditaria se eu dissesse que essa ligação existe e está na música “Maurício”?




Muitos talvez nem saibam que a mítica banda passou por estas bandas, em 1986, quando fizeram um show histórico no Ginásio do Corinthians, durante a divulgação do álbum Dois. Os que estiveram lá contam que foi um show memorável, com uma Legião Urbana no auge da carreira e a presença enigmática de Renato Russo. E contam também a história que ouvi há muito tempo e agora, passados 19 anos da morte de Renato Russo (1960-1996), resolvi resgatar.
   
Quem é de Santa Maria e tem mais de 30 anos certamente conhece o Mauricio, chamado por muitos de “Argentino”. O que se sabe sobre o Mauricio é que, quando ele tinha 14 anos, foi dar um mergulho na piscina de um clube e bateu a cabeça. Com o acidente, o Mauricio ficou com limitações de fala e locomoção. Nada que o impedisse de sair e se divertir como um jovem da sua idade, tanto que o principal local pra se encontrar o “Argentino” era na fila de alguma balada. E, mesmo com as limitações, o Argentino estava lá, no lendário show da Legião. Hoje, Maurício vive mais recluso em casa e já não é visto na noite de Santa Maria. Segundo a irmã, Viviane, por conta da violência das ruas.

Reza a lenda que durante a apresentação daquela noite, em setembro de 1986, Mauricio estava na plateia e – tentando subir no palco – foi contido de forma não muito amistosa pelos seguranças. Ao ver a cena, Renato Russo teria ficado indignado, pois percebeu que Mauricio tinha necessidades especiais. Renato então parou o show, deu o maior esporro nos seguranças, discursou alguma coisa para o público e convidou o Maurício para ir até o camarim conhecer a banda. Depois disso, contam que - para ele e por ele – foi então composta a música “Mauricio”, que entrou no disco As Quatro Estações (1989). 


Maurício (Argentino), de óculos e boné. (Foto: Vadson Schafer - Arquivo Pessoal)

Na época em que eu trabalhava na rádio Itapema Santa Maria, entrei em contato por e-mail com o Dado e o Bonfá. A resposta dos dois sobre a origem da música Maurício não foi conclusiva, mas também não foi negativa. “Olha, Ana... se é verdade, só uma pessoa poderia confirmar: o próprio Renato”, me disse o guitarrista. Bonfá seguiu na mesma linha: “se foi pro Maurício de Santa Maria, essa história ficou com o Renato”.

Mas, durante o show do Legião em Porto Alegre, em 1990, ao final de Maurício, Renato diz: “Era pra ser pro meu ex-namorado, né?”. E então segue o baile sem muitas explicações. Dizem também que a música realmente teria sido feita para um ex-namorado do vocalista. Eu, como uma apreciadora de histórias fantásticas, prefiro ficar com a versão de que Maurício foi inspirada aqui. Cada um ouve a letra e a interpreta como quiser, assim que é.

De tudo, o que resta é a certeza de que a Legião Urbana marcou uma época e também uma geração. Seja ela Coca-Cola ou Y. O fato é que quem viveu aqueles anos sabe que alguma coisa ainda toca lá no fundo, quando se ouve os acordes de Tempo Perdido ou Índios, por exemplo. E toda letra de Renato Russo tem uma frase que pode se aproveitar na vida, seja agora ou depois. Basta ter sensibilidade e alma aberta pra entender.



Confira a letra da canção:

Maurício

Já não sei dizer se ainda sei sentir
O meu coração já não me pertence
Já não quer mais me obedecer
Parece agora estar tão cansado quanto eu
Até pensei que era mais por não saber
Que ainda sou capaz de acreditar
Me sinto tão só
E dizem que a solidão até que me cai bem
Às vezes faço planos
Às vezes quero ir
Pra algum país distante
Voltar a ser feliz
Já não sei dizer o que aconteceu
Se tudo que sonhei foi mesmo um
sonho meu
Se meu desejo então já se realizou
O que fazer depois
Pra onde é que eu vou?
Eu vi você voltar pra mim
Eu vi você voltar pra mim

Assista a seguir uma matéria especial sobre a Legião Urbana, que foi ao ar no Fantástico (Rede Globo), narrada pelo repórter especial do programa, Marcelo Canellas.




*** Colaboração de Adriano do Canto na disponibilização dos spots comerciais e do Allan Simões pelo vídeo do show ao vivo *** 


30 de nov. de 2011

sem tristeza não há poesia

blog abandonado, há meses sem escrever. sempre soube que a tristeza era minha inspiração. se estou triste, sufoco. e pra não sufocar, reclamo minhas queixas sobre o teclado. mas não estando triste, não tenho vontade de dividir com o mundo minhas mazelas. até porque, quando feliz, não as percebo.

gosto de observar a cronologia das coisas. minha última postagem foi no início de março. e exatamente nessa época, houve um divisor de águas na minha vida. além da mudança de emprego - algo que me tornou extremamente feliz - esbarrei em alguém que abalou todas as estruturas da sólida e durona ana. esbarrei mesmo. aliás, esse alguém veio ao meu encontro. me recebeu em um lugar estranho pra mim. me acolheu, me deu as boas vindas e me chamou pelo nome.

a partir daí, tudo foi só felicidade. lógico que houve momentos ruins. mas nada que me fizesse sentir tamanha angústia quanto agora. porque das outras vezes que fiquei triste, é porque fui ferida. desta vez, eu feri. sem querer, sem intenção, por exercer um egoísmo que não é natural a minha pessoa, mas eu feri. por nada, sem razão, mas feri. machuquei, quebrei, traí a confiança de alguém. e isso tá doendo imensamente em mim.

a incerteza de não saber se tem conserto me angustia. me rasga a alma. dilacera o coração. não espero perdão. nem acho que seja o caso. mas espero compreensão, a mesma que tive quando fui ferida. espero que as coisas que não tem importância fiquem guardadas no fundo de um baú. e que um novo baú colorido e brilhante se abra para o amanhã. que saia de dentro dele só alegrias, risos, juras, leveza. que saia leveza.

por enquanto, só me resta o medo. medo de perder, medo de não ser suficientemente importante pra reconquistar o que nem cheguei a ter. e nunca fui de sentir medo!!! acho que por que nunca tinha tido na minha vida alguém que me proporcionasse tanta paz e entendimento.

agora, a ideia é que eu fique quietinha no meu canto. tentando achar as respostas, tentando desfazer os nós, tentando reencontrar meu lugar no mundo e no coração de quem magoei.

que o universo me dê sorte e proteção.

"num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece a outra" (cfa)

1 de mar. de 2011

nova etapa

admito que este blog está meio abandonado... falta de tempo justifica. como novidade, passei a colaborar com o blog do grings. eventualmente, vou migrar alguns posts de lá, pra cá. como é o caso desse, publicado originalmente no dia 18 de fevereiro.
a desconfortável sensação de inquietudo, é o título.

Divulgação Focus Filmes#

Hoje tem estreia por aqui. Leia o texto de Ana Bittencourt (locutora da Itapema Santa Maria e agora também colaboradora do Blog do Grings
) sobre o novo filme de Javier Bardem
Por vezes, assistir a um filme do cineasta Alejandro González Iñárritu pode deixar no ar aquela incômoda sensação de desconforto e inquietude. Ainda que a trajetória cinematográfica do diretor já seja conhecida de muitos cinéfilos, sempre podemos nos surpreender pela arte e talento deste jovem diretor mexicano que já está escalado na primeira divisão do cinema mundial.
Biutiful (2010) é a mais recente produção de Iñarritu e o primeiro longa do diretor depois de seu rompimento com o roteirista Guillermo Arriaga, que colaborou em filmes como Amores Brutos (2000), 21 Gramas (2003) e Babel (2006). Apesar do nome, Biutiful (uma corruptela de beautiful), não é um filme bonito. Ao contrário. Esteticamente falando, é denso, é escuro e feio. O céu é cinza e sempre tem fumaça sobre a cidade. Mas a beleza do filme talvez esteja na forma de retratar as dores do mundo de maneira real e profunda.


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A história gira em torno de Uxbal (Javier Bardem, melhor ator na XXV edição do Prêmio Goya), um médium que cuida sozinho dos dois filhos pequenos e toca a vida explorando imigrantes africanos e chineses numa Barcelona deteriorada e decadente. Cresceu sem conhecer o pai. Da mãe, só tem um anel como lembrança. Separado da mulher bipolar e usando de seu dom mediúnico para arranjar alguns trocados, Uxbal recebe a notícia de que um câncer terminal lhe dá direito a dois meses de vida.


Divulgação Focus Filmes


A partir daí, o personagem mergulha em pequenos conflitos, ao mesmo tempo em que tenta se despedir da vida e dos filhos e se prepara para conhecer o pai que nunca viu. A história reserva ainda outras surpresas improváveis, porém, com grande poder de reflexão. A temática da morte está muito presente, nos lembrando a todo instante quão efêmera é a vida.

Bardem novamente surge nas telas como um personagem convincente e extremamente humano, conseguindo nos comover, sem escorregar na pieguice. É por vezes mercenário, mas sabe retribuir à sua maneira, sem deixar de se emocionar com os dramas existenciais dos outros personagens da trama, com etnias diferentes da sua, característica recorrente nos filmes de Iñarritu.


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Iñarritu e Bardem. Foto: divulgação Focus


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Biutiful é um daqueles filmes que provoca nossa reflexão, desses que nos fazem pensar no drama dos personagens durante dias. O espectador sai do cinema com aquele aperto no peito, sem saber exatamente de onde ele vem. Ao contrário do que se pensa, não é mais um longa com temática espírita (graças a Deus). Mas ao mesmo tempo em que trata de questões essencialmente subjetivas, também nos apresenta problemas reais, como imigração, condições de vida subumanas, comércio de produtos ilegais e corrupção policial. Mas antes de tudo, o recado final que ficou ressoando é apesar de tanta diferença e desigualdade, a condição humana ainda não sacou que apesar de todos termos o mesmo fim, continuamos recorrendo em velhos erros e tolices. E que sempre é hora de recomeçar, nessa ou em outra vida.

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Confira abaixo uma entrevista com o cineasta mexicano.

14 de fev. de 2011

mal necessário

a etimologia de uma palavra pode ser extremamente poética. esse é o caso da palavra nostalgia, que vem do grego nostos (retorno para casa) e algia (dor, aflição). nostalgia seria, portanto, o suave sofrimento que nos traz a "volta para casa", ou seja, as lembranças de um tempo que já passou.
muito prazer, meu nome é ana e eu sofro disso.


11 de fev. de 2011

pra alegrar o coração

o mote pra um texto no blog pode surgir de vários acontecimentos... uma conversa na mesa de bar, um cochicho escutado sem querer na fila do banco, uma impressão artística, uma inquietude na alma ou... o e-mail de uma amiga.


foto: charles guerra. disponível aqui
e é desse último que me vem a inspiração pra registrar a alegria de estar viva e ter amigos. receber boas notícias e ser convidada a compartilhá-las é uma coisa que me enche toca fundo o coração. eis que nesta manhã cinza, recebo notícias felizes de uma amiga que está longe, mas bem perto dos meus pensamentos. nem preciso dizer que minha sexta-feira ganhou outras cores. não quero nem preciso reproduzir aqui o que ela me contou e, mesmo sem pedir autorização, quero e vou registrar as palavras que tanto amei:

"Obrigada pelo carinho de sempre. A tua amizade para mim é salutar. É
referência. É a certeza de dizer: poxa, como a gente cresceu gente boa.
Acho, Aninha, que somos aquelas, ainda, adolescentes que sonhavam com um
mundo melhor. O tempo não nos corrompeu.
Que lindo, né?"

sim, querida amiga. a gente cresceu gente boa. e com certeza ainda somos as mesmas. diferentes no amadurecimento (psicológico e estético, diga-se de passagem), mas as iguaizinhas na essência e personalidade. e enquanto conservarmos a alegria de viver, o brilho no olho perante cada novo desafio e, principalmente, a paixão pelo que fizemos, com certeza mudaremos o mundo. ao menos o mundo ao nosso redor. e isso já me basta.

9 de fev. de 2011

do nothing for two minutes


é, a vida anda mesmo corrida (oba!). sem muito tempo ou ideias criativas pra atualizar o blog. apesar de ainda usar o computador, msn, twitter e afins estão um pouco esquecidos. tenho saudade dos amigos e também do tempo em que eu tinha disposição e tempo pra longos papos. mas a mudança brusca nos horários não tem me deixado "ser um ser social". acho que logo acostumo.

e outra... computador toma muito tempo na vida da gente! é um tal de clica aqui, clica acolá... uma coisa leva à outra, uma leitura que te encaminha pra próxima, um vídeo que lembra outro... difícil mesmo é ficar parado em frente a essa máquinazinha do mal, com tanta coisa aqui dentro! pensando nisso, um britânico criou o site "do nothing for two minutes" (ou: não fazer nada por dois minutos). e a proposta é essa mesma... não fazer absolutamente nada no computador. apenas ficar admirando a paisagem e ouvindo o barulho das ondas do mar... pensa que é fácil? tente clicando aqui. confesso que tentei... e não consegui.

espero meu sumiço e falta de novidades não sejam motivos pra perder minha seleta plateia virtual. apareçam!

7 de fev. de 2011

faroeste caboclo nas telas

taí uma das notícias que mais gostei de ler nesse início de ano: faroeste caboclo, a saga de joão de santo cristo, vai virar filme. a letra narra a desgraça de joão, desde seu nascimento até sua morte, no duelo com seu principal inimigo e traidor, jeremias. joão de santo cristo é, na verdade, um homem que não pode fugir de seu destino.

talvez isso nem renato russo tenha imaginado um dia. ou, talvez, sim. já que a letra de 9 minutos é um roteiro musicado. o bacana é que agora, o triângulo amoroso entre maria lúcia, joão de santo cristo e jeremias vai ganhar ares de sétima arte e se imortalizar nas telas.

faroeste caboclo é um clássico do rock nacional, lançado pela legião urbana em 1987, no terceiro álbum da banda (que país é esse?) e embalou muitas gerações. até onde as informações dão conta, a verba para o filme já foi liberada, as locações no distrito federal já foram escolhidas e parte do elenco já está acertado. ísis valverde será maria lúcia. fabricio boliveira dará vida à joão de santo cristo e o maconheiro sem-vergonha do jeremias será interpretado por felipe abib. resta saber quem fará o neto bastardo de seu bisavô, o peruano que vivia na bolívia, sempre dizia que um negócio ele ia começar. e seu nome era pablo.


faroeste caboclo é uma co-produção gávea filmes, europa filmes, república pureza filmes e globo filmes, com orçamento de r$ 6 milhões. o filme será ambientado no final dos anos 70, época em que renato russo escreveu a canção, e o roteiro vai ser fiel aos 159 versos da letra. o filme tem roteiro de paulo lins (cidade de deus) e direção do brasiliense rené sampaio. confira mais informações no site oficial do filme.

essa música marcou época. confesso que me doía o coração cada vez que eu ouvia. imaginava a cena do joão caindo morto, olhando pras câmeras de tv, um prenúncio de toda essa espetacularização midiática que vivemos, o chamado "showrnalismo". acho que o filme tem tudo pra dar certo. o roteiro é bom e os produtores prometem ser fiéis ao que renato russo escreveu. tô na expectativa!