21 de mai. de 2009

e o gianecchini levou...

... levou embora minha paciência com a falta de bom senso e com gente deslumbrada... pra complementar e encerrar de vez o episódio "gianecchini esteve aqui e me arrancou 60 contos", apresento aos nobres leitores o texto da fran. a guria falou tudo o que eu queria dizer e não consegui.

"Vocês conhecem Jader Guteres, Pablo Canalles, Gabriela Amado, Leonel Henckes, a Lara Bitencourt? Não! É uma pena, são ótimos atores de Santa Maria, cada um à seu nível, a sua maneira de representar, emocionar o público e viver as coisas com suas determinadas intensidades. Já fotografei todos eles, no palco, no set de filmagem, no dia-a-dia. Com diversos personagens, nas mais variadas posturas, sem roupa, com roupa, já troquei uma idéia, até mesmo interesses comuns pela vontade de se fazer teatro, "cultura" em Santa Maria. Mas eles raramente estão no palco, ao menos ultimamente, quem sabe isso se deva ao fato de que tem que dividir seu tempo com outras preocupações que não o teatro em si, mas dando aula, fazendo mestrado, enfim...indo para outras bandas bem longe daqui.

Eu gosto de vê-los no palco, do Caixa Preta, do Treze de Maio, do TUI, mesmo naqueles dias em que vão apenas os amigos, os convidados, a família assistir. Afinal, eles não são atores globais, e quem vai querer pagar 5, 10 pila pra ver gente daqui, né? Se podemos pagar 60 para ver as pernas bem delineadas do Gianecchini; o olhar tenso-intenso de Camila Morgado. Ok. Gosto de espetáculos globais, e gosto dos dois atores citados agora a pouco. Mas gosto de casa lotada e de público com bom senso. Gosto muito mais de bons textos, de bons espetáculos do nossos atores, que não poucos, nem inferiores. Difícil conciliar tudo isso, eu sei.

A fila foi longa e repentina quando anunciaram no jornal do almoço de ontem que devido a grande procura o espetáculo global, seria apresentado mais uma vez amanhã. 60 pila, ninguém reclamou, a fila só aumentou. Ontem de noite estive lá, só a observar. As madames se refestelando nos seus melhores modelitos, as jovenzinhas tiétes (é assim que se escrever, droga, nunca sei) querendo tocar no peito definido do nobre ator. Casa lotada, um público que raramente já se dispos a assistir meus atores de Santa Maria. Mas enfim, não tenho nada contra a vinda de espetáculos grandes e globais para cá - que isso fique bem claro - por mim, aliás, poderia ter todo o mês um evento assim.

Quantos dali entendem de teatro, ou de fato gostam de estar num? Tenho minhas dúvidas e nem sei se isso é importante, mas vários questionamentos me surgem. Uma noite de indignações silenciosas - as minhas, ao menos, que estava bem além de saber qual o tamanho do tico do Reynaldo. Gostei do texto, uma verdadeira aula de teatro. Um texto crítico, com cara de obra carioca, mas enfim, bom...com muitas apelações obviamente, bunda, sexo, pau, e essas cositas. Mas, teatro vive disse não é mesmo? Ouvi a Ruth comentando de canto: _É só ter sexo no nome que a casa lota. Ai, ai, ai, vamos fazer só Nelson Rodrigues, então. Esqueçamos dos dramas, dos clássicos, dos mitos e de tudo mais, teatro virou picadeiro de peripécias audaciosas entre casais nas quatro paredes, se nus melhor ainda. E não falo em nu artístico não, o público quer o escrachado, o nada sutil. Riem por que se constragem? Ou por que não entendem bulhufas de arte dramática?

Mas, enfim, o modelo que deslanchou namorando uma jornalista bem mais velha me surpreendeu ontem no palco, uma excelente e intensa atuação, não esperava mesmo. Uma voz de taquara, mas uma maleabilidade naquele corpo impressionante. Camila Morgado dispensa comentários, não só por ter feito Olga, mas por que é boa de fato, tem teatro no sangue, e isso se percebe de longe: no all-star preto, na calça jeans, no rosto cansado depois do espetáculo. Sem falsos sorrisos, tava podre mesmo e senti que um tanto decepcionada com a atuação. Resumindo: tava com cara de atriz real, depois que desce do palco, depois de mais um espetáculo. Digo e repito gostei da super-produção (não da produtora), gostei do texto, das críticas propostas, da casa cheia. Mas não gostei do público sem bom senso, que fotografou com flash o tempo todo e não se deu conta que isso é falta de educação. Atrapalha o ator, as outras pessoas que querem assistir. Não gostei também que o produtor não quis me deixar fotografar durante o espetáculo, por que eles faziam posições no palco que não fariam jamais na vida... Essa tive que rir, mas o que são, então??? Não são atores? Ah tá, esqueci, são os globais. A Bi, o Leo, a Lara já ficaram peladinhos e eu fotografei tudinho, e eles adoraram.

Enfim, a "cidade cultura", com um povo às vezes um pouco "aculturado" teve uma grande noite ontem....E eu aqui comigo, me questiono, me questiono, me questiono, e admiro cada vez mais, os corpos não tão bem definidos dos meus ilustres atores de Santa Maria. Que são assim: de carne, osso, vivacidade, que interpretam bons personagens, bons textos e amam o teatro acima de qualquer coisa, de bilheteria, de casa cheia ou não.

Fecham-se as cortinas, é hora de esperar o Gianecchini aparecer na porta....Mas, como diz o Jader mais tarde: ele é bonito, é alto, é global, mas duvido que seja melhor ator e mais macho que eu....É Jader, to pra te dizer que tiro o chapéu pra ti...."

Um comentário:

nixon vermelho disse...

quando morava em santa maria, lembro de ir no caixa preta e ver muita coisa boa e otimos atores. mas como tudo nessa vida muda, eu fui ficando cada vez mais mal humorado e politicamente incorreto, que hoje já saio dizendo que não gosto de teatro.