5 de jul. de 2009

Retrocesso do Jornalismo


Em meus 80 anos, assisto agora a um dos maiores retrocessos havidos na cultura e na informação, na Comunicação Social e no progresso do país. Falo da esdrúxula decisão da mais alta corte da justiça brasileira, segundo a qual qualquer pessoa pode ser “jornalista”. Foi isso, afinal, que determinou o STF, quando decidiu que não é mais necessário o diploma de jornalista para exercer a atividade.


Chegou-se a dizer que o jornalismo é “arte e literatura”. Não é. É ciência e requer formação ética para a comunicação, para informar de maneira isenta e verdadeira. A opinião pública requer que o jornalista tenha formação acadêmica para o domínio dos processos de investigação sociológica e das técnicas indispensáveis à era eletrônica. Findaram, lá nos albores da primeira República e no dealbar da democracia, os tempos em que a atividade do jornalismo era feita pelos políticos, pelos intelectuais e pelos “picaretas” da improvisação. Naquele tempo, os jornais eram elaborados ao sabor dos interesses dos coronéis, dos barões e das lideranças de currais políticos. No tempo do voto a cabresto e da desinformação das massas, que findou quando faliram os últimos jornais de Assis Chateaubriand e de Samuel Wainer.


Ao longo da vida, vi a ciência do Direito evoluir do rábula para o bacharel, as construções evoluírem dos pedreiros construtores para os engenheiros, os materiais de construção evolucionarem do barro para o concreto armado. Vi a arquitetura crescer desde os chalés até os arranha-céus com os arquitetos. Vi a própria imprensa evolver do palpite à informação científica. Assisti à transformação dos curandeiros e dos charlatães em médicos de alta especialização científica e técnica. Enfim, o progresso da humanidade se deveu à ultrapassagem dos métodos empíricos e experimentais pelos métodos científicos, em todas as profissões. Foi para isso que se criaram os cursos acadêmicos. E com o jornalismo não foi diferente.


Quando me iniciei nessas lides, há mais de meio século, não existiam os cursos de formação universitária da Comunicação Social. Mas sou definitivamente a favor da exigência do diploma para o exercício dessa profissão. Entendo que a dispensa da formação acadêmica é um retrocesso lamentável aos tempos do empirismo. Imagine-se o que seria da Medicina se o seu exercício dispensasse o diploma. Quantas edificações ruiriam se, aos engenheiros e arquitetos, se prescindisse a formação pela metodologia científica. E, por aí afora, voltaríamos aos tempos primevos, ao obscurantismo da Idade Média. Como se aceitar que o Jornalismo não oferece perigo social? E a notícia imprecisa, e o fato distorcido ou mal-investigado?


Sem o diploma, os advogados não poderiam chegar ao status de procuradores, promotores de Justiça, juizes e desembargadores. Como seriam as altas cortes de Justiça se, aos seus membros, se aos seus ministros não se exigisse a formação na ciência do Direito, se lhes fosse dispensado o diploma?


A formação superior, acadêmica, é uma imposição do próprio progresso das civilizações. Por isso, acredito firmemente que os congressistas farão voltar a exigência salutar do diploma para o exercício da profissão do jornalismo, através dos cursos que tanto fizeram evoluir a imprensa brasileira.


Deixo a pergunta: a quem interessa a ignorância? Se necessário, voltarei ao assunto. Tenho mais a dizer.


Obrigada, Bicca Larré, de coração. A nova geração te agradece.



5 comentários:

nixon vermelho disse...

tás numa luta ferrenha em ana!

Tamyris Torres disse...

Eu só quero que o Sindicato seja eficaz e continue sua manifestação em prol de um conselho para nossa classe. Porque querer que o Supremo Tribunal volte atrás seria utópico demais.
Eu não quero dividir o meu lugar com outras pessoas nas redações. Eu quero contar com qualidade de informação e quero me orgulhar do meu sindicato. Por isso eu espero ver uma luta potente!
Segundo Gilmar Mendes, a obrigatoriedade do diploma é um ato que sobrou do regime militar ditatorial, mas tirar nosso direito com apenas oito votos também foi bastante arbitrário. Somos muito mais que oito pessoas e ninguém teve a capacidade de ouvir o que a sociedade pensa e o que a nossa classe quer! Se isso não for ditadura, seria que espécie de governo?

Tamyris Torres disse...

Oi!!! Obrigada pela visita. Soube que na sexta o sindicato vai se reunir outra vez pra mais uma manifestação. Estou dento pra variar...
Se quiser, lá no meu blog tem um banner pra adicionar como gadgest. É só copiar e colar no seu. Se tiver um banner do seu blog é só me mandar o código que te adiciono no meu.
Beijos e até mais

Te linkei tb e estou a te seguir...

Fran Rebelatto disse...

É guria, sábias palavras de quem tem mais de 80 anos... Sensatez de quem já viveu o suficiente para ter a liberdade de expressar sua opinião sem sofrer qualquer tipo de discordãncia...
Eu acho que não é um diploma que legitima a competência de ninguém, mas como diz Bica Larré, reafirmando em outras palavras, é a experiência e a vivência da universidade que te dão alguns caminhos para o bom senso, e para a atitude ética. Caminhos, estes que descobrimos aos poucos na prática mesmo, ao quebrar a cara, ou então fazendo a coisa certa.
Mas enfim, um retrocesso simplesmente...
O empirismo, e a cientificidade, tem de estar lado a lado, isso é o que defendo agora mais do que nunca...e a legitimação das posturas e das posições pelo que se faz de verdade, pelo bom e verdadeiro discurso, pela ética e pela verdade, além das aparências...

Sinceramente, não sei o que quis dizer agora, me perdi no raciocinio, mas é muita leitura acumulada nos últimos dias e pouca prática...Aaaaaaaaaa

The Drunken Scientist disse...

Eu vou cursar faculdade de flanelinha daqui uns anos enquanto os meios de comunicação são direcionados para o controle das massas, para a ignorantização do povo.
Logo, o povão vai estar bem feliz sendo cada vez mais ignorante, recebendo mais, tendo uma "profissão" legalizada, ganhando sua boa e velha "bolsa-faça-bastante-filhos-que-nos-darão-votos" e ae poderemos ter uma deliciosa forma de governo chamada "ditadura".
Êêêê!! E a povaiada nem tá percebendo este caminho se formando!
Paisínho mais ignorante está por "nascer".